Fragmento Crítico -
EXPOSIÇÃO ANDEDAN
O aluno Isaac Joatan de Luna, graduando em Produção Cultural, no IFRN-Campus Natal Cidade Alta, elaborou um fragmento crítico sobre a exposição Andedan, que ocorreu na Galeria de Arte do Campus Natal Cidade Alta, no mês de março deste ano. Esse fragmento foi uma das avaliações que a professora Mára Beatriz Pucci de Mattos realizou para a disciplina de Crítica da Arte.
Abaixo o texto de Isaac Joantan de Luna:
Campus Natal Cidade
Alta
Curso: Produção
Cultural
Disciplina: Crítica
da Arte
Fragmento Crítico -
EXPOSIÇÃO ANDEDAN
Autor: Isaac Joatan de Luna (Natal,
2013)
Arte é o momento em que nos sentimos atacados,
vulneráveis e frágeis a esse ataque
mortal que nos atingiu. É amar, correr o risco, é fazer do caos indissociável
do que você é, sente e gosta, apesar da confusão. É perder-se e tudo bem. É
aceitar a multiplicidade sem julgamentos, porque para um apreciador de arte o
que interessa é ter seus sentimentos tocados, não somente a qualidade do
material, a técnica... o que interessa é não podermos reagir ao êxtase. Nem
sequer queremos explicações, queremos mesmo é não saber nada, ficar sem
palavras para descrever...porque há coisas que não se diz com palavras e gestos
é tudo ao mesmo tempo e de uma só vez: simbólico, identidade. É mesmo
perder-se.
Ao entrar na exposição
ANDEDAN do artista plástico Marcus Vinícius Popó, somos surpreendidos pela
sensibilidade desse militar. O estranhamento nos atinge em cheio, vemos Pelé pintado com
uma bola de futebol, esta usada como se fosse pincel, e uma tinta cor de lama. É
metalinguagem! Eu sussurro para mim mesmo. Depois Ivete Sangalo que de longe
parece o que costumamos ver na TV e de perto torna-se só pontos, como pixels,
como se estivéssemos tão próximos para entender a imensidão de sua
personalidade.
Mas tenho uma preferida
entre todas: o Saddam Hussein esculpido a golpes violentos que denotam a
personalidade não somente do retratado, mas do próprio artista que se mostra em
duas faces, uma destas secreta, dicotômica: é violência do homem militar, a
frieza, o sangue que jorra, a vida, que ao mesmo tempo é simbolicamente
expressa pelo sangue também se trai pelo mesmo símbolo, que é também de morte e
de dor e, em oposição, mas não excludente, apesar de contraditória – mas é
disso que trata a arte, afinal, não é mesmo? Um desenho de criança escondido
atrás da tela, um jogo inocente de forca. Nesse momento somos colocados frente
a uma percepção que nos leva ao êxtase, saímos do global para o local, do
habitual para o estranho e em discussão que todos fazem parte: a vida. As
crianças lidando com isso com inocência, como brincadeira, para aprender a
lidar com esse choque e adultos ainda não adaptados à violência, lidam com
crueldade da mesma ordem com as questões que nos tocam. Ele, como militar tem
uma visão muito particular do que é o horror da guerra, da miséria, dos olhos
fundos do cansaço e desespero. Ele viveu tudo isso e essa é a única obra, que
eu me lembre, que retrata esse universo específico, tão real, vivo, ainda
pulsante no sangue que sempre parece
molhado na fórmica que serviu de suporte para a pintura. Ela, inteira, quebrada
em minúsculos pedaços de madeira prensada, que teimam em se manter unidos, como
as pessoas em momento de crise, para assim, em pedaços, dar forma ao ditador,
fragmentado e sangrento. O sangue do próprio artista está lá.
Esse golpe de faca que a
obra sofre para dar contorno as delicadas formas é o mesmo golpe mortal que
desejamos receber da arte, queremos sentir as pernas tremer diante do
desconhecido, do iminente ataque mortal. Conhecer a obra do artista brasiliense
que já vive há dois anos na capital do elefante – só agora foi descoberto pela
habilidosa e ávida visão da curadora da galeria de arte do IFRN Cidade Alta,
Mára Pucci de Mattos – é uma experiência que toca e queima dentro de você, faz
você delirar e perder-se nesse universo que não é só do artista, mas que passa
a ser nosso pelos temas abordados e pelo convite ousado a experimentar prazeres
desconhecidos.
Transcrição integral: Profª. Mára Beatriz Pucci de Mattos
Isaac Joatan de Luna |
Jocasta Luana
Produtora Cultural