Sonia Silva aluna do Curso de Produção Cultural do Campus Natal Cidade Alta-IFRN, é mais uma a compartilhar sua resenha crítica da exposição Andedan do Artista Plástico Marcos Popó, a crítica de arte, cada vez mas requer novos profissionais e estudos. Vai além de ser negativa ou algo ruim, ela gera novos conceitos, discussões, modifica e contribui para a história.
RESENHA CRÍTICA
Sonia Silva |
Marcos Vinícius de
Oliveira Pereira, nascido em Brasília
em 22 de julho de 1982, mudou-se para o Rio de Janeiro ainda na primeira
infância, onde viveu até os seus 18 anos; foi no SENAC-RJ que fez um curso de
figura humana desenvolvendo seus traços, traços esses que tiveram início de
forma autodidata desenhando historias em quadrinhos, reproduzindo as do mercado
e também produzindo suas próprias historias.
Com 18 anos prestou concurso para a Academia
da Força Aérea- AFA, nessa época costumava desenhar caricaturas dos colegas de
farda e cartoons para o jornal da AFA, fã de HQ nunca deixou de praticar, admite
ter sido influenciado grandemente ao observar a técnica de Travis Charest ,
Adam Hughes e Alex Ross.
Em 2009 começou a estudar novos métodos, inicialmente
colagem depois foram os trabalhos com linha e prego, sempre em segundo plano
devido sua atividade profissional.
Porém ao participar de uma missão ao
Haiti em 2011 após um ano de treinamento a “visão
artística e tornando uma pessoa mais calma e centrada”(Popó)1 . Também contribuiu para sua formação a
visitação a grandes museus e a arte de rua dos EUA, visitas feitas durante seu
período de folga na missão ao Haiti; considera o artista que o céu é o limite e
parafraseia Michelangelo quando perguntado se conseguiria esculpir a ”Pietá” a
partir de um bloco de mármore tendo o mesmo respondido: “Ela já estava lá; eu só tirei o excesso”. É de dentro do artista e dos materiais comuns que veio a
inspiração dos trabalhos apresentados.
“Popó”
disse: “não
acredito na arte como mudança de sociedade. Não em tempos de paz, quando você
analisa a Guernica de Pablo Picasso, tem que analisar o contexto histórico. Mas
na sociedade atual não acredito que uma obra vai conseguir mudar a opinião da
população sobre determinado assunto, já existe o jornal para isso, e não vem
conseguindo bons resultados. Acho que o artista pode fazer sua parte e
reaproveitar matérias quando possível, ele mesmo ter consciência ambiental e de
seu lugar na sociedade. Mas acho que a arte é pra ser bonita, pra esboçar um
sorriso, arregalar o olho, deixar de boca aberta ou franzir a testa. É nesse
contexto que eu faço minhas obras, me desafiando e desafiando os materiais que
eu uso, cada trabalho é um desafio, uma entrega e principalmente uma aposta.”
A
OBRA
Quadro de Saddan Hussein
Feito em técnica mista : placa de madeira revestida com fórmica branca,
na qual a figura do ditador Saddan Hussein aparece pelo processo de se tirar
parte da fórmica para se mostrar o que se quer que seja visto, com aparente
aprofundamento de partes da madeira, finalizando com pintura na cor vermelha
que envolve a quase gravura a ponta seca sobre fórmica.
“A arte é a
principalmente, a emoção estética que ela desperta, emoção que depende da nossa
sensibilidade moldada pelo meio social e pela cultura na qual vivemos. p.35)”
(...) “A arte é uma atividade que caracteriza o homem p. 35.”(...)“Desde a
infância, o homem desenvolve a emoção estética e demonstra o prazer que isso
lhe dá p.36.” (COSTA, Cristina. Questões de Arte. O belo, a percepção estética
e o fazer artístico/Cristina Costa – 2. ed. Reform.- São Paulo: Moderna,2004).
Penso
que observa este quadro deve causar uma
inquietação muito grande ao espectador, pelo menos foi isso que me ocorreu ao
observa-lo; o objeto aqui observado produzido de forma rudimentar, segundo o
artista, produzido a partir de uma porta de madeira revestida com fórmica,
talhada a faca e posteriormente com socos na intenção que a madeira cedesse e assim ficasse mais
calcada (profunda/ com relevos) em alguns lugares, o que causou ao artista um
ferimento nas mãos que sangrou e caiu por cima do trabalho que estava sendo
executado, mas, como diria Cristina Costa em seu livro: COSTA, Cristina.
Questões de Arte. O belo, a percepção estética e o fazer artístico/Cristina
Costa – 2. ed. Reform.- São Paulo: Moderna,2004). O que realmente importa é o
que o espectador sente ao comtemplar uma obra, a emoção que lhe é despertada e
sem dúvida este quadro muito me impressionou, a figura ali representada de Saddan Hussein impressiona, a brutalidade do talhe sobre a
madeira, os relevos causados pelos murros e posteriormente por martelo o
vermelho da tinta acrílica representando o sangue do artista derramado, a
história do personagem ali mostrado, os pensamentos voam, ora pensei no Saddan,
seu poderio e seu declínio, na nossa sociedade, na nossa cultura, como vemos e
sentimos o sofrimento do outro, um misto de ansiedade e tristeza.
Penso
que, a arte pode nos levar a refletir sobre nós e a sociedade em que vivemos,
sobre o que podemos e devemos fazer em prol de um mundo melhor, principalmente
reconhecendo que sozinhos não podemos
nada, que é no outro que vamos encontrar a possibilidade de realizar
algo maior.
“Como é possível haver um acordo sobre o que chamar de arte? ... Existem
mecanismos na sociedade que permitem que certos grupos legitimem seu gosto
p.37.”(...)“Elas têm o poder de identificar, selecionar, qualificar e preservar
a produção artística p.37.”(...)“ Os historiadores da arte têm mostrado que é
do conflito e do confronto entre um estilo consagrado e aquele que inova que se
processa a dinâmica da produção artística p.38.”(...)“A arte depende das
transformações históricas, da popularização dos estilos e do próprio
desenvolvimento p.40.”
“ Assim, há hoje uma dificuldade muito maior em se estabelecer um único
critério de validade para o que é belo p.41.” (COSTA, Cristina. Questões de
Arte. O belo, a percepção estética e o fazer artístico/Cristina Costa – 2. ed.
Reform.- São Paulo: Moderna,2004).
Sonia Silva
Jocasta Andrade
Produtora Cultural
Nenhum comentário:
Postar um comentário